quarta-feira, 8 de março de 2017

"Em uma cidade teve um cara que chegou a me dizer que só foi ao show pra “saber se era verdade que tinha uma mulher que tocava IGUAL HOMEM”"

Por Adiel Soares, redator do Bog Dapesada
Jeito delicado, mas com um demônio nas mãos essa garota assumiu o posto de guitarrista em uma banda de Death Metal com renome na cena nordestina. Substituindo dois guitarristas agressivos, ela encarou o desafio de frente e hoje é uma das representantes da Força Feminina no Metal Nacional. E por isso, hoje nessa entrevista ela representa todas as mulheres de atitude que habitam esse planeta. Parabéns à Luênya e à todas as mulheres Headbangers do mundo afora, mostrem seus potenciais e nunca curvem-se diante de qualquer preconceito! 
Feliz todos os 365 Dias Internacionais das Mulheres! 
Luênya - Foto: Acervo Pessoal
Dapesada: Pra começar, com quantos anos e através de quem você conheceu o Metal. O estilo já era o Death Metal?
Luênya: Primeiramente gostaria dizer que para mim, é um prazer colaborar com seu trabalho Adiel, e que sempre que precisa estarei disposta a apoiar.
Comecei a ouvir metal quando tinha 13 anos. Um amigo que morava perto, ia sempre conversar comigo e com minha irmã e levava fitas k7. Não era apenas Death, na verdade Death era o que menos tinha. Lembro das primeiras k7, eram do Black Sabbath (Paranoid), Sepultuta (Arise), Darkthrone, Marduk e Gorgoroth.
Depois ele começou a levar CDs, Um deles eu lembro que foi do Decomposed God. Nessaa época não existia MP3 ou computadores para baixar o que quisesse, então cada k7 ou CD que ele ou eu conseguia com algum amigo era motivo de festa.
Dapesada: Anteriormente em uma conversa informal, você relatou que ganhou um violão do seu avô, e na evolução com as cordas, apaixonou-se pela guitarra, nos conte essa história e como seus pais e avós encararam a ideia de você tocar em uma banda de música extrema?
Luênya: Na verdade foi da minha Avó. Eu tive uma criação muito influenciada pelos meus avós. Passei infância e adolescência entre a casa dos meus pais e dos meus avós, tanto paternos quanto maternos. Meu pai tocava violão, mas não queria que eu fizesse o mesmo. Mas minha vó sempre foi mais visionária. Ela convenceu meu pai a comprar com ela um violão quando eu tinha 14 anos. Passei 3 anos me dedicando só ao violão clássico, mas quando peguei a guitarra tive certeza que aquele era o meu instrumento. Pros meus país e avós o que incomodava não era o fato de tocar em uma banda extrema e sim por ser uma garota, de pouca idade (quando comecei a tocar em bandas eu tinha apenas 17 anos) em um universo de homens. Lembro bem a pergunta que minha mãe, pai, avós, tios, primos(...) faziam: “E só tem ‘tu’ de menina nessas bandas?”.
Dapesada: Quais são suas influências musicais, no modo geral e em relação a guitarra propriamente dita?
Luênya: Eu sou fascinada por palhetadas violentas. Mas minhas influencias são variadas. Eu curto muito Possessed, Carcass, Deicide, Decapitated (primeiros trabalhos), Cannibal Corpse, Nile, Death, Obituary, etc. De thrash eu gosto bastante do Overkill, Exodus e Testament. Essas são minhas principais influências na Guitarra.
Demonized Legion - Foto: Acervo da banda
Dapesada: Você assumiu a guitarra em uma banda de Metal Extremo com renome no cenário nordestino, como foi essa integração, no início você sentiu o peso do nome Demonized Legion?
Luênya: Quando entrei no Demonized Legion, eu tinha apenas 18 anos. Entrei substituindo dois grandes amigos que são o João “Terrorizer” e Jeronimo Ribeiro. Com certeza foi uma grande responsabilidade pois a banda já tinha um tempo de estrada e dois guitarristas bons. Mas a integração foi tranquila, além de companheiros de banda todos são verdadeiros amigos.
Dapesada: Em agosto de 2012 quando a Demonized Legion veio tocar no "Infernal Fest", confesso ter ficado surpreso ao ver uma “garota” assumindo a guitarra do ataque profano, mas foi apenas por conhecer o som destruidor da banda. Você sofreu algum preconceito naquela turnê simplesmente pelo fato de ser mulher? Sabendo-se, que infelizmente ainda existe atitudes machistas no meio underground.
Luênya: Com certeza sofri preconceito! Em uma cidade teve um cara que chegou a me dizer que só foi ao show pra “saber se era verdade que tinha uma mulher que tocava IGUAL HOMEM”. Em outra cidade um rapaz confessou que “não dava nada por mim” até me ver tocando. Em várias cidades o pessoal achava que eu era namorada de algum integrante. Entre outros absurdos que tive que me deparar.
Dapesada: Vamos falar de planos na música, o que você cogita como musicista para si?
Luênya: Os planos mais próximos são de gravar o novo material. Tivemos problemas com a gravação do debut, estava praticamente pronto, mas infelizmente vamos ter que regravar. Posteriormente pretendemos fazer outra turnê, não sabemos quando nem por onde, mas para mim como musicista o mais importante é divulgar o trabalho, viajar pra levar o Brutal Death Metal nordestino para verdadeiros apreciadores do estilo de outros estados e/ou países.
Dapesada: Nos fale um pouco de você, do seu cotidiano, profissão,  quem é você no dia a dia?
Luênya: Eu tenho várias profissões (risos). Trabalho como Técnica em Prótese dentária, mas especificamente em ortodontia. Sou gerente de um clinica odontológica. Sou historiadora/professora de História, mas atualmente não atuo na profissão. Tenho meu home atelier de crochet, como disse anteriormente, vivi muito com minha avó e isso me fez aprender muitas coisas (bordado, crochet, costura, etc), e crochet é uma arte que faço desde que tinha 9 anos de idade. Minha vó é curandeira e por causa dela também sou afeiçoada ao paganismo e tudo que é ligado à antigas crenças e costumes (aí também entra a História).
Dapesada: Pra encerrar, deixo contigo as palavras para que mande um recado para AS BANGERS. Use quantas linhas achar necessário.
Luênya: Bangers da cena, vocês só me enchem de orgulho. São fortes e adentram um espaço tipicamente masculino fazendo acontecer. São integrantes de bandas, produtoras de eventos, amigas que dão suporte e que com sua presença fazem a cena. E como eu disse a algumas garotas que vieram conversar comigo sobre sentirem vontade de tocar um instrumento: Não sintam receio, vocês podem tocar tanto quanto, ou melhor, que qualquer cara, basta se dedicar, estudar, pesquisar e ter realmente vontade de ser uma musicista.
Gostaria de agradecer, em nome da Demonized Legion, pelo espaço. Estamos sempre disponíveis à pessoas como você que com seu trabalho contribuem de maneira significativa na divulgação de bandas, eventos e na cena em geral. Forte abraço a todos.
 Death metal Rules!
Fanpage da banda Demonized Legion: www.facebook.com/DemonizedLegion

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