quarta-feira, 19 de outubro de 2011

BEM VINDO AO UNDERGROUND!

Eu sou headbanger a alguns bons anos, já vivi boas histórias nessa cena potiguar que cresce a cada dia, por sinal, hoje é uma das mais fortes do Nordeste. Vivi a época em que se compravam gravações de álbuns em fitas cassete através de cartas e anúncios em zines impressos, na época isso não caracterizava pirataria (risos), dos shows na ASSEN, do ultimo ano da “WHIPLASH Discos”, loja do saudoso Luziano onde comprei meus primeiros vinis com o dinheiro do lanche e dos tickets estudantis que economizava nos “arrumados” que fazia com os colegas (coisa de brasileiro [risos]), (mas uma sacana ganhou minha confiança e me fez o "favor" de roubar quase todos). Conversei algumas vezes com Ricardo “Diamond” (RIP), um apoiador cheio de ideias e que dependia na maioria das vezes de outras pessoas para se locomover, tive a oportunidade de ver o cartaz de um dos “Mortal Simphony Festival” ainda com o cheiro da tinta de caneta, feitos a mão por Claudio “Slayer” e copiados (xerox).
 Sou morador da Zona Norte de Natal há 30 anos, e nesta área que já sofria grande preconceito, também rolava uma grande discriminação entre os próprios bangers, existia certo radicalismo, alguns grupos de bangers rasgavam o seu visual se você não soubesse tudo do álbum estampado em sua camiseta, em contrapartida, eu fui a ensaios do Terrorzone, Skeptical Minds (Mitchel me perdoe se tiver errado), assisti a shows dessas e outras bandas como Hammeron, Auschwitz, Crosskill, Insane Death, Westland (acho que é assim) e algumas que vieram de estados vizinhos. Isso pra mim era uma alegria fora de série, pois o ano era 1991 e eu tinha apenas 13 anos, meus pais não me deixavam perambular a noite pela cidade. Mas ainda tive algumas chances de andar na velha Kombi do pai de Dennis Stefanini (Auschwitz) com o nome da eletrônica pintado na lataria, ao lado de Mitchel, Karen, Luziano, Caio, Julio Skull, Concita e Fernanda (esses quatro últimos nem sei por onde andam), e no fusquinha vermelho do avô de Oruam (Deadly Fate), a galera saia rodando atrás de festas americanas já que show era uma raridade.
Eu estou a escrever esse texto não pra dizer que sou um “headbanger das antigas” ou grande conhecedor da cena potiguar, pois existem muitos bangers mais antigos que eu, como os citados acima. Por exemplo, Mitchel Pedregal é um cara que tem um imenso acervo da cena local. É apenas um tempo considerável de história, no meu caso o suficiente pra poder de certa forma desabafar sobre o assunto a que quero chegar. Conheço pessoas das cenas de outros estados e como gosto de “jogar conversa fora”, ouvi histórias que não me agradaram. Eu prezo pela amizade e respeito mútuo dos seres que habitam nosso planeta. Tenho amigos da maioria das raças, credos, classes sociais, profissões e tribos urbanas que existem mundo afora, e em todas essas existem picaretas, mas excluo esses do meu ciclo de amizades e vou seguindo em frente.
Os headbangers em sua grande maioria sofrem há muito tempo preconceito vindo de católicos, evangélicos, burgueses, playboys, puritanos e até de pessoas que se dizem “comuns” (risos) o que é isso? Todos otários que se acham melhor que nós, muitos de nós sofremos o pior dos preconceitos, o de nossas famílias que acham que por sermos “rockeiros”, usamos drogas, vivemos vagabundando, se enchendo de álcool pelas ruas da cidade ou praticando vandalismo voluntário. Reconheço que pra alguns isso é ser “headbanger”, mas se eles quiseram transformar isso em seus estilos de vida, problema deles. Já bastam todas essas concepções errôneas sobre nós.
Aqui em Natal / RN de certo tempo pra cá eu percebi que o radicalismo tá aflorando novamente em alguns bangers, isso já aconteceu e acontece em outros estados brasileiros e só faz empobrecer o underground, que por definição já é um submundo, diminuindo o publico em shows, e assim limitando os mesmos, e nos tirando a oportunidade de ver ótimas bandas no quintal de casa. Eu entendo que são muitas vertentes do metal, e que realmente existam pessoas que estão na cena de passagem ou pra chocar seus entes queridos, e pouco tempo depois colocam uma bíblia debaixo do braço e vai pregar a palavra do senhor (virou santo)... Ridículos, são indivíduos que somem muitas vezes sem nem serem percebidos, e quando o são, é por “merdas” que fazem motivados por um falso sentimento de rebeldia “sem causa”. Mas esses também colaboram de alguma forma com as bandas, zines, webzines e principalmente com os produtores de eventos, que quando tomam um prejuízo não tem como recuperar, é bater a poeira e seguir em frente. Meu objetivo não é mudar a cabeça de ninguém, quero apenas fazer uma tentativa de dar continuidade ao crescimento da nossa cena fazendo da mesma uma grande família, e apoiar aqueles que gastam pequenas fortunas pra nós ouvirmos um bom metal.
Deixe o preconceito para os alienados que se escondem atrás de inúmeras ideologias tentando posar de mocinho, se você não é um desses.
Bem Vindo a uma eterna viajem ao underground!

Adiel Soares

“tradicional, thrash metal, death metal, doom metal, góthic metal. Tirem o primeiro nome e deixem apenas o "metal", somos todo metal!”.
Chuck Schuldiner

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