domingo, 26 de junho de 2016

PRA QUEM FOI CRIADO O METAL?

   O documentário "METAL É SÓ PRA HOMEM?, produzido pela Heavy Metal Online aborda um assunto polêmico, não só no underground, mas em todas as classes sociais no Brasil e no mundo.
Produzido Clinger Carlos, por sinal muito bem produzido, o documetário aborda a libertação feminina no underground, e poderia ser extendida às outras tribos urbanas existentes no mundo, nas quais, eu vejo a desvalorização explícita do sexo feminino, e infelizmente, existem mulheres que apoiam e compactuam com isso.
   Eu, particularmente, já devo ter praticado atitudes machistas, pois sou filho de uma sociedade onde se pregava que: "A mulher tinha que servir ao homem"; "Que o homem mandava na casa"; "Que homem era pra casar com mulher e que duas pessoas do mesmo sexo que iam pra cama juntos, mereciam morrer".
   Aos 11 anos, conheci o Rock, e esse estilo musical e de vida me fez ir mudando meus pensamentos e opinião sobre essas que até então, eu conhecia como "leis da sociedade". Hoje, já não penso mais assim. Quando comecei a ir as lojas, shows e bares de Metal, me deparei com algumas meninas que gostavam do som, na época, elas usavam camisetas, calças coladas e basqueteiras, e olhando de longe não se distinguia mulheres de homens, pois todos tinham pelão e vestiam-se do mesmo jeito. Eu já vinha mudando minha opinião sobre as mulheres e esse fato reforçou a minha metamorfose psicólogica.
   Até hoje, quando encontro algumas delas, vem na lembrança aquela época, a evolução e a vitória dessas mulheres, que talvez já sofressem preconceito pelo simples fato de ser mulher, ainda eram pré-julgadas por ser Headbanger, que no inicio dos anos 90, era difícil até para os homens, eramos discriminados e tachados como vagabundos, eufemismo usado para marginal. 
   Seguindo minha saga banger, ouvi a banda Warlock e comprei um LP da banda brasiliense P.U.S., que tinha Simone como guitarrista, essas duas foram responsáveis pelo meu "fanatismo" por mulheres de atitude, não só no Metal, mas em qualquer lugar na sociedade. E parece que tudo foi conspirando a favor do meu pensamento, conheci casais de meninas que namoravam assumidamente, que dirigia caminhão e feministas, que lutavam por direitos iguais, bem, se for escrever tudo, esse texto vai ficar gigante
    O tempo foi passando e assisti a conquista dia-a-dia das nossas divas, foram surgindo meninas que se destacavam em todos os meios do underground. Hoje, no underground, vejo mulheres com liberdade para fazerem o que quer, e estão ali simplesmente por mérito, por caráter, não tem essa de estar ali pelo rostinho bonito e corpo sexy, já presenciei casos que aconteceram por interesse sexual e não deram certo, assim como dizer que "ela faz como homem", isso não existe. Elas fazem bem feito, e merece o respeito que todo bom profissional merece! Seja produzindo, cantando, tocando, reportando, fotografando ou simplesmente batendo cabeça. O Cenário Metal não pode apoiar, muito menos praticar tal ato, nós pregamos a liberdade, independente de gênero, cor ou classe social, somos uma vertente da sociedade que incomoda os "fantoches" da demagogia, e se você não condiz com essa ideologia, passa a ser um fantoche tão igual ou pior que os citados acima!

"Se o cara entra nessa de achar que o Metal é pra homem, você tá no lugar errado!"
Mary Puertas (Proprietária da loja BLOOD LINE e Vocalista daTorture Squad)
Assistam o vídeo, logo abaixo, postei alguns comentários de algumas meninas que vivem no meio underground e dão sua contribuição, e têm a mesma importância pra cena, das que não participam de banda, produzem ou reportam, mas compram material, pagam seus ingressos, leem blogs, sites e zines, vão aos bares de rock e etc... Afinal, o underground é composto por vários elementos, se faltar um deles, o mesmo perde a sua essência.


Documentário originalmente postado no canal do Youtube HEAVY METAL ONLINE 

   
 ”Bom, eu não gosto desses rótulos, a sociedade em que vivemos ainda é machista e repleta de preconceitos, e no “meio metal” não é diferente, INFELIZMENTE. Em minha opinião, o metal não foi feito com distinção de gênero (homem e mulher), etnia e raça. Fico satisfeita ao ver que as mulheres estão cada vez mais ativas em prol da cena, seja no backstage, tocando/cantando em uma banda, adquirindo materiais e/ou comparecendo aos eventos.
   Repudio a atitude de ALGUNS homens (e mulheres também) que não respeitam o fato de que quando alguma mulher está sendo “reconhecida”, contribuindo e “lutando” pela cena, os preconceituosos aparecem com os argumentos clichês - “Só está aparecendo porque é bonita, ou porque é esposa de fulano”, “porque tem dinheiro para bancar algo”, “porque quer aparecer...” Entre outros absurdos, sem nenhum embasamento e respeito ao que está falando. Observo que em shows ficam usando adjetivos chulos ao se referir à mulher que está no palco, mesmo observando que a mesma tem competência para estar ali, representando. Cada um tem o livre arbítrio para gostar, se vestir e fazer o que quiser. Acredito que quem vive de apontar o dedo para julgar as mulheres pela sua música, suas vestimentas e atitudes, pelo simples fato de ser mulher, esquece de olhar para si e de fazer sua parte. Isso se deve a incapacidade de fazer algo igual, ou melhor, pela cena. Logo, vem à necessidade de criticar pela a posição na qual ela está inserida.
   Tem muita mulher nos bastidores e em bandas que possuem atitude e amplo conhecimento, que não só buscam se aperfeiçoar no que fazem, mas também “estudam” os diversos temas que o metal aborda, não são vazias como alguns homens por aí, vide algumas que foram destacadas no documentário e inúmeras outras mulheres que encontram-se no meio.”
Ângela Fullmoon - Recife/PE – Headbanger participante na cena há 20 anos.

   “O metal definitivamente é para quem o ama. Independente de gênero.
Eu frequento a cena underground de Natal a uns 16 anos, e desde o início com envolvimento com banda, na época o Pillars Of Eternity. Conto nos dedos as vezes em que fui assediada e/ou desrespeitada em shows de metal em que eu estava como público. Duas, pra ser mais exata, nesses dezesseis anos. MUITO menos do que acontece em um dia comum na vida fora do metal.
Vou para os shows com felicidade no coração porque sei que vou encontrar amigos verdadeiros que estão ali pelo mesmo motivo que eu: Curtir um belo som e tomar altas!
   Desde sempre, o que mais me chamou atenção foi a irmandade criada no meio, como forma de suporte e apoio entre as bandas. Nunca fui diminuída ou menosprezada por músicos do metal pelo fato de ser mulher. Muito pelo contrário, sempre fui acolhida, estimulada a evoluir, assim como eu vejo que ocorre com os homens que se envolvem com bandas.
   Nunca senti diferenças... Até que fui convidada a entrar pro Terrorzone, uma banda clássica da cena, formada por homens em sua essência, que ousaram convidar uma mulher pra cantar e inserir um instrumento atípico pro heavy/thrash - o violino (ou a rabeca, se assim preferir chamar). E pra minha surpresa o preconceito partiu do público. Rumores de que diziam que não ia dar certo antes de ouvirem o som, se os caras que me chamaram realmente queriam fazer isso com a banda... Enfim, dúvidas e mais dúvidas, comentários e mais comentários feitos por puro preconceito no sentido mais literal da palavra - conceito formado antes do conhecimento. Teve quem preferisse chamar isso de "cuidado" e "carinho" com o legado da banda, e é bem eufêmico pensar assim, mas como todo bom eufemismo, suavizou bastante a situação na minha cabeça.
   O fato é que esse preconceito, assim como o assédio, foi minoria. O impacto foi muito mais positivo do que eu sequer poderia imaginar ou desejar. Me senti abraçada e feliz por ter aceitado o desafio. No metal me sinto valorizada e completa, e quisera eu toda mulher que curte esse tipo de som pudesse ter a experiência de subir ao palco e ver lá de cima como somos fortes e capazes!
   Que aumente cada vez mais o número de mulheres que fazem o metal. E que os homens e mulheres do metal continuem cada vez mais a respeitar e valorizar a todos que tragam algum tipo de fortalecimento pra cena! Seja vendendo os visuais, como a Lene; seja como fotógrafa, como a Karen; seja fazendo resenhas e produzindo, como a Laali; seja como público, como a Miryeven; cantando como a Sidhia, ou fazendo seja lá o que for, desde que participe positivamente!”
Ariane Salgado - Natal/RN - Vocalista e Violinista da Terrorzone (RN)


   “E o Metal é só pra homem? Não mesmo! Não é gênero que define quem é ou não headbanger, é vivência e entrega! O Metal não é machista, as pessoas são. E não é porque a existência e a tomada dos espaços por parte de nós mulheres no metal é pré julgada, contestada, sabotada e frequentemente invisbilisada que deixaremos de cultuá-lo e lutar por nossos ideais contestadores que se alinham perfeitamente ao pensamento e essência do Metal, Ser libertador! Embora isso seja contraditório, o machismo ainda reina nesse meio entre homens e mulheres, ainda somos objetificadas, vulgarizadas e silenciadas. Ainda ouço aquela velha frase "te considero como um cara" sendo entoada como se fosse um elogio, mas na verdade isso só reforça a ideia de que não somos dignas, não somos fortes e que o metal não é pra nós. O metal não serve (ou não deveria servir) aos dogmas do patriarcado, à reprodução de ideais retrógradas de superioridade masculina e discriminatória.
Somos livres para perpassar todos os espaços, com o Metal não é diferente. Estamos nos palcos, nos fronts e nos bastidores, sendo muito mais do que apenas coadjuvantes do cenário ou namorada de alguém. Não é o machismo que vai correr comigo do Metal. Se fosse fácil não chamaríamos de "batalha", não usaríamos a alcunha de "guerreiros". O que lamento nisso tudo é que ao invés de somarmos forças para realmente lutar contra a opressão social, moralista e religiosa, ainda estejamos travando batalhas internas sem sentido, como a misoginia no Metal.
   Neste sentido, ao invés de me calar, me conter e colocar de lado minhas convicções em prol da boa convivência, entenda-se passiva, no Metal, penso que faço muito mais lutando por igualdade e respeito mútuo dentro dele. Minha parte eu já faço, como disse uma das garotas do doc. "existindo e incomodando", porque sim, ainda incomodamos os rebentos do patriarcado no Metal. E enquanto isso existir, contuaremos denunciando, escrachando e quebrando as correntes que nos prendem, inferiorizam e invisibilisam dentro de um cenário que não condiz com preconceito e opressão.”
Danielly Nascimento - Natal/RN - Promotora dos eventos “The Ripper Fest” e “Culto ao Macabro


   Eu já havia assistido o documentário, na verdade assim que foi lançado, pois é um assunto que me interessa bastante, como muitos que o Clinger do Heavy Metal On Line aborda. Eu achei fantástico e pessoalmente me fez sentir um pouco mais leve, pois as mulheres entrevistadas disseram tudo que eu tenho em mente. São garotas que realmente estão alí porque gostam de verdade e se sentem felizes por serem o que são.
Na minha opinião, sexo não define muita coisa, principalmente nos dias atuais.
   Essa questão de que a mulher deve ser submissa ao homem não passa de uma ideia ultrapassada, machista e sem nexo. As mulheres são tão fortes quanto os homens, tão espertas quanto eles e tão fantásticas igualmente! Homens e mulheres estão aí pra se unirem e admirar de uma forma boa o que ambos são capazes de fazer. Tanto dentro deste universo quanto em tudo na vida, as pessoas precisam parar pra pensar que ninguém é melhor do que ninguém por ter um certo tipo de órgão reprodutor, cor, situação financeira, religião, costumes ou seja lá o que for. Quem garante que isso faz de você alguém com poderes especiais? É algo insano. As mulheres, como em todos os espaços que conquistou e vem conquistando ao longo do tempo, devem sempre ter força de vontade e mostrar para todos, essa força. Seguindo sempre em frente no que querem fazer.
   A mulher precisa ter coragem, garra e ousar. As pessoas precisam dar mais oportunidade e respeito à elas. As coisas estão melhorando dentro da cena metal e eu sinto que um dia, perceberão totalmente a nossa importância. Sem comentários ofensivos ou conflitos internos das próprias pessoas, que acabam sendo descontados em nós pelo simples fato de que estamos vencendo. O que importa mesmo é que todos estão alí para um bem maior.
Mirella Jambo – Natal/RN – Vocalista da Banda Daimonos (RN)


Agradecimentos:
Ariane Salgado, Ângela Fullmoon, Mirella Jambo e Danielly Nascimento, pelos excelentes comentários, ao Clinger Carlos, sua equipe e todas as meninas que participaram do vídeo possibilitando a produção do mesmo, Miryeven Torres pela ajuda na matéria, A todas as Headbangers desse mundo afora e a todos os leitores e seguidores desse blog, todos, sem exceção são o combustível para que ele e o underground exista.

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